Há luz para todos?
A saúde mental em Portugal
SNS: "“A própria psicóloga disse-me que eu precisava de um acompanhamento semanal, mas que por ter tantos utentes não podia fazê-lo"
Beatriz e Francisca não se conhecem. Não estudam na mesma faculdade, não frequentam os mesmos lugares e é pouco provável que se tenham, sequer, alguma vez cruzado na rua. Em comum, levam anos de terapia e a procura pela estabilidade emocional, que nem sempre é fácil (ou possível) de atingir.
Para além dos efeitos, mais do que provados, dos sucessivos confinamentos e isolamento social na saúde mental dos mais novos, o período pandémico ficou também marcado pela necessidade de fazer frente a um sistema de cuidados que se debilitou significativamente. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), durante a pandemia, em Portugal, a quebra na resposta rondou os 21% nos hospitais públicos. Numa rede onde o tempo de espera por uma consulta é um convite velado aos hospitais privados, que apoio é disponibilizado pelas instituições públicas?
O chilrear dos pássaros e os patos que brincam alegremente num lago ali perto servem de pano de fundo para a história de Francisca. Com 20 anos, estuda Enfermagem em Bragança e sonha poder cuidar dos que mais precisam.
Francisca sofre de ansiedade e depressão. Uma ida à urgência, há cerca de dois anos, valeu-lhe o diagnóstico. O acompanhamento psicológico regular tem-no, como diz, “por sorte” e devido à boa vontade de alguns.
Mas o caminho que a levou até à urgência foi longo. Foi no verão de 2018 que começou a ter ataques de choro, sem que conseguisse perceber porquê. “Andava também muito irritada e descarregava nas pessoas mais próximas. Sentia-me muito triste e sozinha, porque apesar de ter com quem partilhar o que sentia, não conseguia resolver aquilo comigo mesma. Precisava de alguém que me explicasse o porquê de sentir tudo aquilo”.
Demorou quase um ano a pedir ajuda numa psicóloga particular.
Durante um longo período esteve sem qualquer acompanhamento psicológico. Nos dias piores, que eram cada vez mais, geria os sintomas com a medicação receitada pela psiquiatra, numa espécie de refúgio. “Não sabia o que me estava a provocar tudo aquilo, que estratégias usar para diminuir a ansiedade. Apenas sabia que se tomasse um comprimido os sintomas aliviavam”.
Sem saída, voltou a contactar a antiga psicóloga que, por sorte, tinha uma amiga a trabalhar no Centro de Saúde de Bragança. A primeira consulta foi logo duas semanas depois. “A própria psicóloga disse-me que eu precisava de um acompanhamento semanal, mas que por ter tantos utentes não podia fazê-lo. No melhor dos cenários, tinha consulta a cada três semanas, mas havia vezes em que chegava lá, diziam que ela não estava e remarcavam para o mês seguinte”.
Trabalhar sem recursos
Na fronteira oposta do país, em Viana do Castelo, Filipa Batista depara-se diariamente com o mesmo problema. Psicóloga clínica, trabalha no Hospital de Santa Luzia desde 2008 e vê-se a braços com um elevado número de utentes a que não consegue dar resposta. “Nós somos os primeiros a admitir isso. Somos 10 psicólogos para o distrito inteiro, é muito difícil dar uma resposta eficaz e cabal às verdadeiras necessidades. Conseguimos marcar primeiras consultas em tempos até bastante razoáveis, mas as seguintes não são tão próximas e regulares como gostaríamos para garantir uma intervenção adequada”.
Filipa sempre trabalhou no SNS. Sente-se uma privilegiada por ter em mãos a capacidade de fazer a diferença na vida das pessoas. “Este espírito de missão de servir toda a gente independentemente da raça, poder económico, credo ou outras situações é um privilégio”.
A profissional garante que o que falta são recursos. A vontade de ajudar, essa, continua bem presente. “Aqui no hospital somos todos muito qualificados mas temos muito poucas condições de trabalho. Gostávamos de fazer atendimentos mais adequados e mais próximos, mas não podemos fazer omeletes sem ovos”. Os “ovos” a que se refere são os profissionais que escasseiam, apesar de existir já uma bolsa de psicólogos em espera para serem contratados. “O meu diretor tem feito vários pedidos para a contratação de mais psicólogos, mas dizem-nos que não é possível, que não há dinheiro”.
Ricardo Mestre, Secretário de Estado da Saúde, afirmou, durante a Conferência O Futuro das Neurociências ocorrida no dia 9 de maio, que “os fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) permitem acelerar a reforma” de saúde mental em curso. Dos 1,3 mil milhões de euros aplicados à saúde, 88 milhões destinam-se a esta reforma, que tem como eixos a desinstitucionalização de doentes residentes em hospitais psiquiátricos, o aumento de respostas nos cuidados de saúde primários e na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados de Saúde Mental (RNCCI-SM), dotando “o país de cuidados de saúde mental em tempo, proximidade, equidade e qualidade”.
No final de 2022 havia 1114 psicólogos e 785 psiquiatras a trabalhar no serviço público, um aumento de 13,9 e 16,9% face a 2018, respetivamente. De acordo com o portal Tempos Médios de espera do Serviço Nacional de Saúde, no último trimestre do ano passado, o tempo médio de espera para a primeira consulta de psiquiatria rondava os 122 dias. Dos hospitais a disponibilizar esta informação, o Hospital de Santarém liderava o ranking, com 336 dias, seguido pelos hospitais da Guarda e de Chaves, ambos com 240 dias. Os hospitais de Tomar e de Famalicão (30 dias) e o Hospital de Santo Tirso (21 dias) ocupavam os últimos lugares do ranking.
Um caminho solitário
Beatriz enfrentou esta realidade das duas vezes em que foi acompanhada tanto em psiquiatria como em psicologia. Aquando da primeira vez ainda uma criança e a segunda mais recentemente. Desta última arrepende-se de não ter pedido ajuda mais cedo. “Foi catastrófico. Obriguei-me a deixar levar as coisas longe demais”.
Decidiu, finalmente, pedir ajuda. Fê-lo por conta própria. “Foi um bocadinho solitário. Hoje arrependo-me de não ter inserido outras pessoas da minha vida no processo, porque teria sido mais fácil”.
Iniciou, então, um processo longo e difícil, com várias fases. “Marquei uma consulta num centro de saúde no Porto, porque na altura vivia lá, e tive algumas complicações porque não costumava lá ir nem estava lá inscrita”. Disseram-lhe que seria reencaminhada para a lista de espera hospitalar e que, se quisesse acelerar o processo, teria de ir ao hospital diretamente. Não o fez. Esperou 7 meses.
Enquanto esperava, tentou contornar a situação junto dos amigos, embora admita que o problema continuava lá. “Pelo menos, a essa altura já tinha reconhecido que alguma coisa estava errada”.
Inicialmente, fazia consultas mensais, mas quando foi reencaminhada para o serviço de psiquiatria conseguiu ter consultas mais regulares, que acabaram por ir espaçando. Hoje, sentada num banco de jardim com o sol a bater, sente os efeitos de todo este trabalho. Aprendeu ferramentas para lidar com os problemas e considera que a falta de acesso às mesmas é um dos grandes problemas da saúde mental.
“As consultas ensinaram-me a pensar de uma forma diferente, muito mais ampla, e a ter algum controle sobre mim. Hoje sinto-me bem, sinto-me equilibrada. Um pouco confusa, mas acho que a confusão não implica desequilíbrio. Eu não o sinto”.
Universidades: "É provável que no SNS consiga consulta mais rápido"
“Na minha faculdade há um psicólogo para 6000 alunos”. Quem o diz é Beatriz, que estuda na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). Não pôs (nem põe) em hipótese procurar apoio psicológico na faculdade. “Não quero passar por esse processo, acho que seria contraproducente. É provável que no SNS consiga consulta mais rápido”.
Os estudos fazem disparar alarmes. Um quinto dos estudantes do ensino superior possui algum tipo de doença mental. Esta é uma das conclusões de um estudo realizado pela Universidade de Évora, que concluiu também que quase metade destes diagnósticos foi feita depois da pandemia. Lara Guedes de Pinho, coordenadora do estudo e professora no Departamento de Enfermagem da Universidade de Évora, não tem dúvidas que a pandemia foi uma das grandes responsáveis pelo aumento de problemas de saúde mental nos jovens.
Os alunos, com as mesmas responsabilidades de sempre e menos contacto com pares e professores, tiveram de fazer frente a um contexto pandémico nunca antes experienciado.
Durante o confinamento, Beatriz sentiu-o na pele. “Foi muito difícil socializar. Para além de não ser fácil combater esse sentimento internamente, também não era do ponto de vista prático”.
Francisca também viu a sua situação piorar. “No confinamento desenvolvi outras perturbações de ansiedade que não tinha, porque estava demasiado tempo sozinha com o meu corpo e sem poder ver ninguém”.
Eugénia Pereira, coordenadora da Unidade de Intervenção Psicológica da Associação de Psicologia da Universidade do Minho (APSI), aproveita o pequeno espaço do seu gabinete para nos falar sobre a (falta) de saúde mental dos estudantes. A também professora auxiliar na Escola de Psicologia confirma um aumento de pedidos de ajuda após a pandemia, mas garante que esta sempre foi necessária. “Sempre demos resposta a muitos pedidos de estudantes. A pandemia veio chamar a atenção para a saúde mental, o que sensibilizou as pessoas para cuidarem mais de si”.
Apesar de reconhecer que os preços dos serviços são um entrave para quem precisa de ajuda, Eugénia Pereira defende que deve existir um pagamento simbólico, para que os estudantes não abandonem o compromisso da terapia. “Mas claro que pagar 2 euros não é o mesmo que pagar 25 ou 40”.
Os serviços de apoio oferecidos pelas diferentes universidades e politécnicos por todo o país apresentam custos diferentes. Para além da diferença entre cada universidade, dentro da mesma os preços podem ainda variar caso o estudante seja bolseiro e consoante o valor da mesma. No Porto, uma consulta de psicologia custa 2,50€; em Braga pode atingir os 25€. A explicação, segundo Eugénia Pereira, reside no tipo de serviços prestados, na quantidade de recursos humanos e no financiamento.
Alternativas: "Não fiz no público aquilo que hoje faço no privado"
Presos num túnel sem luz ao fundo, os doentes procuram incessantemente por uma ajuda que muitas vezes tarda. e outras tantas não aparece. Sem recursos económicos, fator que só por si os torna mais vulneráveis, entregam-se à doença. Afundam-se cada vez mais, sem que ninguém os consiga erguer.
Foi o que aconteceu a Francisca. Mais uma vez sem acompanhamento, era dominada pelos pensamentos negativos causados pela depressão e pelo medo interminável trazido pela ansiedade. Totalmente perdida, pensou até em deixar de estudar.
“Sentia-me totalmente entregue à depressão, já nem a medicação ajudava. Eu continuei a tomá-la diariamente, mas a única coisa que eu sabia que me fazia desligar de tudo era um comprimido SOS, que me punha a dormir o dia todo”. Começou a tornar-se rotina. Como consequência, atingiu o limite de faltas durante o estágio. Parou um semestre para recuperar.
A psicóloga Filipa Batista não duvida que o nível socioeconómico influencia diretamente o nível de cuidados de saúde mental. Apesar de a saúde ser um direito “universal e tendencialmente gratuito”, tal como consagrado na Constituição da República Portuguesa, a realidade não é bem assim. “Quem tem mais recursos consegue ir ao privado, quem não tem só tem o serviço público. Nas escolas, não é muito fácil ter-se acesso a cuidados de saúde mental. Há muito poucos psicólogos nestas instituições”, exemplifica. O problema estende-se aos cuidados de saúde primários, onde a falta de profissionais causa especial preocupação.
O contraste com o elevado número de utentes põe à vista uma das diferenças entre o serviço público e os restantes serviços. Filipa Batista considera que no privado é possível oferecer um acompanhamento mais próximo e personalizado, realidade confirmada por Francisca. O azar de descobrir o cancro de um familiar muito próximo trouxe a sorte de encontrar ajuda na Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC). “Tenho muita liberdade para partilhar aquilo que sinto e é aqui que mais estou a crescer emocionalmente”.
“Um peixinho fora de água”
Leonor é lojista, tem 34 anos e é acompanhada em psicologia desde 2009, quando descobriu que sofria de doença de Crohn.
Cedo percebeu que algo estava errado. “Sentia-me sempre um peixinho fora de água e até à descoberta da doença muitas coisas tinham acontecido”. Sufocada pelo estigma da sociedade, nunca teve coragem para pedir ajuda. Foi o Crohn que fez com que começasse a ter o apoio psicológico de que tanto precisava.
“Tenho que admitir que não fui eu que pedi ajuda, foi o meu gastrenterologista que me encaminhou para ala de psiquiatria e psicologia do Hospital de Braga. É um processo normal na descoberta da doença, para aprendermos ferramentas para lidar com ela”.
Mas não foi só esse o motivo que fez soar os alarmes do médico. “Quando os tratamentos começavam a dar frutos, a minha cabeça estragava sempre tudo, e ele percebeu que não era só com químicos (tratamento para o Crohn) que lá íamos. As minhas análises estavam bem, mas eu tinha crises diariamente”.
A Doença de Crohn caracteriza-se pela inflamação crónica de qualquer parte do sistema digestivo, desde a boca ao reto, embora o órgão mais frequentemente afetado seja o intestino. Tem como sintomas mais comuns a diarreia, dores abdominais e falta de apetite, mas pode traduzir-se noutras consequências como anemia ou desnutrição. De acordo com a CUF, em Portugal assiste-se a um aumento do número de doentes, estimando-se que haja 73 casos por 100.000 habitantes. O stress é um dos principais fatores de instabilidade do quadro.
Leonor era também acompanhada pela médica de família, que achou melhor receitar-lhe antidepressivos. “Andava a dormir em pé, cheguei a adormecer duas vezes a conduzir”. Fez algo que nunca deve ser feito: deixou de tomar a medicação por iniciativa própria, sem fazer o desmame. Hoje sabe que cometeu um erro, mas desde essa altura que não voltou a tomar nenhuma medicação psiquiátrica. Tanto que a psiquiatria foi logo descartada.
“Das duas vezes que fui à psiquiatra ela nunca me falou em tomar antidepressivos”. No entanto, tem consciência que esta pode vir a ser uma realidade. “A minha psicóloga diz-me: “se não melhorares até à próxima consulta, vais ter que tomar alguma coisa”, e eu faço tudo para não tomar, porque já tomo demasiados medicamentos para o Crohn”.
Quando iniciou o acompanhamento no privado, Leonor chegou a pagar 100€ por consulta todas as semanas. “É muito dispendioso”. Apesar disso, sempre conseguiram, ela e o marido, fazer as contas à vida e dar conta do recado. “A minha família é o meu marido e o apoio que sinto é total. Nunca me disse para deixar a terapia, que estava a ser incomportável. Foi sempre “enquanto nós conseguirmos, tu vais”.”.
E continua a ir, agora em média de dois em dois meses. “No início do ano deixei de ir mensalmente, porque estava a ser extenuante a todos os níveis e também porque a doutora já não achou necessário, mas já cheguei a ir de meio em meio ano”. A experiência do tratamento também é diferente. "Não fiz no público aquilo que hoje faço no privado", diz.
Os preços praticados no privado encontram justificação nos números: em fevereiro deste ano, dos 26.000 psicólogos registados na Ordem, 1000 trabalhavam no SNS, o que corresponde a cerca de 0,4% do total de profissionais.
Nos dois maiores grupos privados do país, CUF e Luz Saúde, o preço da primeira consulta é 75 e 79 euros, respetivamente. As consultas subsequentes custam 65 e 64 euros.
Quem não consegue suportar os custos encontra alternativa em associações. A Associação de Psicologia da Universidade do Minho (APSI) presta apoio a nível da saúde mental a toda a comunidade.
Tanto Leonor como Francisca dizem o mesmo: a depressão tem altos e baixos. “Agora é trabalhar para não ir lá com tanta frequência”, diz a primeira. E a segunda complementa: “Sinto que já subi um patamar na minha depressão, agora é continuar a terapia”.
Encaixar o psicólogo no dia a dia
A primeira vez que Tiago, de 21 anos, percebeu que algo não estava bem foi no 12º ano. “Na altura não estava a passar uma boa fase porque andava muito indeciso com o que seguir na universidade. Frequentava o ensino articulado, fazia Ciências e Tecnologias enquanto estudava música na academia”. Sentia-se perdido, num dia queria uma coisa, no seguinte já queria outra.
Tudo isto começou a afetar o seu rendimento escolar e na música. “Tinha dores musculares. Estava sempre muito tenso, nunca estava à vontade para tocar”.
Tiago vê o seu estado mental quase como um ciclo. “Ao longo destes anos, os motivos que me levaram a procurar ajuda foram sempre diferentes, embora sempre relacionados com a ansiedade e mais recentemente com esgotamentos”. O estudante do 3º ano de música da Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (ESMAE) confessa que a falta de tempo é o grande motivo para não ir ao psicólogo com a regularidade que devia. “Acho que agora já estou a precisar de uma consulta outra vez, tenho que arranjar tempo”.
Soluções: "É um problema de prioridades"
Lara Guedes di-lo sem hesitações: "Nem as universidades nem os serviços de saúde têm dado resposta suficiente a este problema." Não há como fugir a esta conclusão. O SNS não tem meios para responder às necessidades reais de uma população que parece simultaneamente afundar-se e acordar para a saúde mental. Filipa Batista expõe como a falta de psicólogos (a exercer nos hospitais públicos) é um problema que ainda não foi resolvido.
"Existem dez psicólogos para todo o distrito de Viana."
Dizem-nos os especialistas consultados que a saúde mental em muito se interliga com a saúde física e, mesmo assim, a segunda continua a ser priorizada relativamente à primeira. Seja por complicações relacionadas a doenças crónicas ou por sintomas físicos da doença mental, estas são duas componentes cujo equilíbrio é essencial para a manutenção de uma vida plenamente saudável.
Também nas universidades se verifica esta deficiência nos serviços: os gabinetes de ajuda espalhados pelas instituições de ensino superior do país não conseguem atender todos os que deles precisam e reflexo disso são as longas listas de espera. Tiago nunca optou por esse meio, mas lembra a situação de amigos do Instituto Politécnico do Porto que tentaram e acabaram por receber como resposta “Em dois, três meses”.
O que pode ser feito para atenuar esta situação? Como reaver a confiança antes depositada nos serviços de saúde?
Na opinião dos testemunhos
Beatriz
Francisca
Leonor
Já muito se faz com o (pouco) orçamento destinado a este setor, no entanto, não chega.
Para Beatriz e Francisca o caminho a ser traçado é claro: investir.
Como exemplo de medidas que poderiam fazer a diferença no setor público, a jovem barcelense prioriza ainda a efetivação e valorização dos profissionais de saúde (e do seu vencimento): “Quando falamos de saúde mental, a falta de investimento e de recursos leva a que os profissionais, obviamente, se sintam mais confortáveis e mais seguros em trabalhar no setor privado. Isto leva a uma falta crónica de profissionais em todo o lado: nos hospitais, nas escolas, nas faculdades, nos locais de trabalho…”
Leonor opta por uma abordagem diferente. Segundo a jovem, “está tudo maluco e ninguém quer admitir”. A vergonha é uma das justificativas apontadas e, por isso, reconhece que a primeira etapa tem de passar pela dimensão pessoal.
E o que pensam os especialistas?
Lara Guedes especifica que um dos problemas dos serviços de saúde das universidades é a sua falta de articulação com os serviços de saúde primários.
A visão de que a saúde mental é algo para se ter em conta apenas quando já existe um desequilíbrio levou ao esquecimento do papel que as políticas de prevenção podem ter no combate à doença. Em bom português, “fazer mal feito dá mais trabalho do que fazer direito”.
Filipa Batista considera a situação no Hospital de Viana extremamente precária. Para a psicóloga, é urgente a contratação de mais profissionais, não só pela sobrecarga laboral dos existentes como também pela padronização das idas a consultas de psicologia.
No seu gabinete de trabalho, a coordenadora da unidade de intervenção da APSI, Eugénia Ribeiro, revela a sua crença de que ações de sensibilização para a causa seriam já um grande passo.
Foi em fevereiro deste ano, no centro regional portuense da Liga Portuguesa Contra o Cancro, que o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, relembrou a contratação de 90 psicólogos para centros de saúde ao longo dos últimos três anos. O ministro mencionou também a contratação de “cerca de mil” psicólogos para as escolas, salientando ainda que as colocações não se cingiram ao perímetro hospitalar. No entanto, os períodos de espera não encurtaram ao mesmo ritmo em todos os hospitais. Continuam a existir hospitais com demoras superiores a um ano para consultas (relembre a infografia acerca do mesmo assunto anteriormente apresentada nesta reportagem).
O plano recentemente anunciado para as universidades idealiza também dar resposta ao aumento de queixas dos estudantes. Suportada pelo Plano de Recuperação e Resiliência português, esta intervenção carece, ainda, da divulgação das propostas de ação concretas.
Por enquanto, remedeia-se com o que há, na esperança de que, no futuro, todos os que procuram a luz ao fundo do túnel possam encontrá-la.
Autoras
Bárbara Nóbrega
O mundo da Comunicação sempre foi um mundo que quis descobrir, e agora com novas aprendizagens ambiciono que a minha carreira profissional seja ligada a esta área.
Libânia Gomes
Desde pequena, sempre gostei de escrever. Ciências da Comunicação era o destino e envergar na especialização de Jornalismo o inevitável.
Maria Sá
Apaixonada por escrever e por histórias. E por escrever histórias